terça-feira, 7 de agosto de 2007

"Sentidos despertos"



Piassa...

O desafio para quem faz uma análise crítica e escreve sobre a própria obra é dar conta da emoção da criação e pulsação que agora se faz na escrita não mais no tátil, no escultural, nem no cromático das cores. É como se a obra fosse desarmada e levada a conquistar o silêncio da escrita.
Escrever sobre cores que gritam, referindo-me ao colorido forte e diferenciado, mas feito de cores comuns mesmo, beirando algumas vezes a homogenização. Falar da cor que compõe estes Totens é quase uma ousadia, uma vontade desarmada de querer e desejar assumir o belo.

É desarmada no sentido de que nada em minha obra é forçado ou artificial. É composta de muitas idéias que vão sendo agregadas vindo de pessoas diferentes com históricos dos mais opostos. Aí me pergunto e afirmo como é bom interagir com esses jovens.
Como é possível dar um tons frio e imponência usando de cores tão fortes? Uma outra pergunta se apresenta diante dessas divagações, será que o belo ainda é uma denominação pertinente e desejado pela arte?

A própria obra fala, se não fala é muda temo esta palavra por conta de uma certa inviolabilidade metafísica, o tempo e as múltiplas idealizações retiraram dela qualquer pregnância de sentido. Mas como deixá-la de lado? Cabe dizer, entretanto, que isto não aconteceu à toa,de fato um esteticismo vazio e uma cooptação frente às determinações do mercado levaram a esta situação complicada em que o belo perdeu espírito e o decorativo abriu mão de qualquer rigor estético.


Para uns, o belo é impotente porque não se deixa apreender intelectualmente. Para outros ele é indesejável pois se deixa seduzir pelo brilho decorativo.
É neste território minado em que a impotência conceitual e a insatisfação ética mostram-se de imediato, que quero tratar da beleza nas obras em questão. Diante das colagens, do grafismo, da textura e da pintura dos Totens nos vemos sempre em alerta, nossos sentidos ficam despertos, atentos e mobilizados. Deparamo-nos com uma forma cilíndrica e outras ainda em experimentos composta de garatuja e letras atiradas alienatoriamente mas precisas sinalizando mensagem.

Uma mistura de intuição parece conduzir minhas ações plásticas. A intuição aí não funciona como algo espontâneo, que daria uma visão poética um caráter um tanto ingênuo.
O que se apresenta é uma sabedoria quase física dos materiais, principalmente das cores, que funcionam por contrastes de textura e movimento. Uma obra executada com materiais comuns e pintada com intenção de obter relevos,e que apela ao nosso sentido tátil.

Cores exaltadas e tímidas convivem sem se acomodarem e quando se entrelaçam uma a outra se faz de maneira a compor uma sequencia harmônica.
O belo é o que produz essa diferença sensível com o que está a sua volta, a um entrelaçamento com o que é exterior além do circulo de garatuja que circunda o Totens. Essa autonomia dá no momento em que o homem artista assume sua maioridade política e espiritual.


Também a de considerar a riqueza de descobertas que ocorre quando se da a possibilidade de concretização as comunidades a qual se permite o livre aceso, a participação e intervenção de criança, jovem e adultos dessas comunidades a pensar e acreditar ser possível interagir em seu meio, de forma a obter um resultado plástico, ainda que não convencional.

Resultado esse que busca dentro dos confrontos das várias linguagens um registro que coincide com a experiência de um sujeito livre para sentir e julgar, capaz de se por frente ao mundo sem os constrangimentos de uma racionalidade instrumental que nos distingue, o certo do errado, o artístico do não-artístico esta relação entre a autonomia do juízo estético e sua vocação política, o sentido pleno da liberdade. O livre jogo das faculdades, à experiência estética, corresponde ao livre jogo entre os cidadãos anônimos do pós moderno.

Há que se compreender o belo como um acontecimento singular que se apresenta aos sentidos, à percepção, e nos mobiliza a ver o mundo, senti-lo, de modo diferenciado. O belo nos retira de uma indiferença perante as coisas e nos faz desejá-lo sem ao mesmo querer consumi-lo e esta é a principal razão de meus atritos com a metafísica, é que a experiência do belo vai ser sempre um acontecimento singular, apoiado no sensível, que não se antecipa nem se define. Ele se apresenta e temos que estar atento. Ele é sempre diferente sendo sempre comum. É essa a diferença que se dá no meio do comum o Totens, que quer o comum, nas suas cores, materiais, formas, para retirá-lo do reino da indiferença.

Muitas vezes os Totens se deixam contaminar por uma atmosfera repleta de informações, mas recusam o excesso sensorial. Há contenção sem sofrimento nenhum, a tonalidade afetiva que atravessa essa obra mistura curiosamente alegria e tédio. Mas é um tédio que não inspira abandono, apenas um chega pra lá. É como se cada Totem dissesse: pára, tá bom assim!
Outro aspecto importante que começa a aparecer nesta obra refere-se à relação entre pintura, colagem, objeto, instalação e intervenção . Na verdade, creio que tudo leva a uma noção de ambiente, de criar um ambiente, uma atmosfera, onde a vida, a mais comum possível, possa ser vivida e experimentada graficamente.

Seja na garatuja da base ou nas intervenções em relevo no corpo que o compõe, mais é no espaço real que percebemos essas conotações,são campos de energia cromática de formas que se propagam e nos convidam a uma leitura tátil. É um mundo de cores para ser sentido na pele. Vale dizer também que suas texturas,ao ser tocada e sentida de maneira tátil dialogam de perto com o cidadão comum que não está preocupado em questionar a origem nem a historia que levaram a sua execução ou ele gosta ou não gosta.A obra por si própria fala se não fala é muda.
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Piassa
Artista Plástico autor do "Projeto Fragmentos Ètnico Arqueológico" e criador dos Totens "Pergaminho Filósofico Cultural" que indentifica os Pontos de Cultura do Programa Cultura Viva

2 comentários:

AMARILIS PAZINI AIRES disse...

PARABÉNS POR MAIS ESTE BELISSIMO TRABALHO.
A PALAVRA É UMA UNIÃO ETERNA.

SandrA disse...

Lindissimo trabalho...parabens amigo!!!
Que Deus continue te iluminando, e dando muita saude e paz, pra q possa continuar ...